01 fevereiro 2015

A REAÇÃO DOS POVOS :

Estado de São Paulo - Feb 2015 - clik 1 
“Não há esperança no sistema político. Não é nada mais que um sistema institucional de suborno”.
Para Graeber, porém, não é possível promover mudanças por “dentro” do sistema. Pergunto se é possível mudar o mundo sem tomar o poder, uma questão “surrealista”, na expressão do ativista, que responde com outra interrogação: “Você realmente quer dizer que, se não tivéssemos ignorado o rumo da política tradicional, se não tivessem existido Occupy e Syntagma, esses novos movimentos eleitorais viriam a existir?” A seguir, a entrevista. Desde 2008, a crise expõe contradições do capitalismo – e movimentos como Occupy contribuíram para destacá­-las. Predominaram, porém, políticas de austeridade. Assim, quão importante é a vitória do Syriza agora? Há uma espécie de ritmo histórico em jogo, uma dinâmica de demora e de inércia que está só começando a se expor.
Após o colapso econômico em 2008, forças de segurança do mundo todo passaram a se preparar para o que se considerava uma onda inevitável de revoltas e rebeliões – que não aconteceu. Por um tempo pensou­se que não haveria repercussões populares. Aí, três anos depois, em 2011, aconteceu – num lugar muito inesperado, na Tunísia – e se espalhou por Egito, Grécia, Espanha, e finalmente Nova York, onde explodiu para o mundo todo. Eram movimentos não violentos e, em quase todos os casos, foram violentamente reprimidos. Depois todos esperavam que suas demandas fossem retomadas dentro do sistema político e, a princípio, parecia que isso tampouco iria acontecer. Três anos depois, vemos movimentos como Syriza, Podemos, Sinn Fein (recém­radicalizado na Irlanda), entre outros. Uma das críticas ao Occupy era a ausência de líderes. Agora, uma resposta para a crise veio das urnas, do jogo político tradicional. O Occupy fracassou? A resposta estaria só no poder do Estado? Em outras palavras, é possível mudar o mundo sem tomar o poder? Perguntas assim são ligeiramente “surrealistas”. Por 30 anos, a ideia tradicional nos EUA foi “se você não gosta da virada da América à direita, se você quer reverter as políticas neoliberais, só há uma única abordagem possível: você precisa participar do processo político, submeter­se aos líderes, propor demandas ‘realistas’, angariar dinheiro, lançar candidatos ou apoiar os já existentes...”